“do que você tem medo?”
Eu não quero falar sobre isso porque
Falar em voz alta faz de todas as paranoias
Ainda mais reais
Faz com que eu me sinta
Ainda mais amedrontada
“você precisa descobrir quando isso começou”
Foi quando meu avô morreu
“e se você colocasse a mão nos cadáveres para tentar resolver?”
E se eu dissesse que o que mais
Aparece nos meus pesadelos não é o corpo
Mas a tampa do caixão?
Qual a solução? “por que nunca procurou uma psicóloga?”
Porque eu passo todo o tempo
Tentando evitar o que me causa medo e
Tenho ainda mais medo
De que me façam encará-los de propósito

Tenho medo por antecipação
Antes mesmo de encará-lo
Não consigo afastar as imagens da 
Minha mente e fico com medo
Das lembranças que surgirão
Quando as luzes apagarem e eu
For incapaz de pegar no sono

Às vezes nem o calmante mais forte faz efeito
Às vezes nem dormir abraçada com minha mãe faz efeito
E não há jeito de acalmar
Minha mente perturbada, amedrontada

Eu odeio me sentir assim e essa é uma
Prisão invisível que me trava
De tempos em tempos 
E quando algum imprevisto acontece
Quando alguém morre
Eu nunca estou preparada e isso
Me torna egoísta a ponto de desejar
Que ninguém morra, não para poupar sofrimento
Mas para que eu não precise
Ir a velório algum

E ninguém entende
Ninguém entende
Ninguém 
E eu não sei como explicar
Porque nem eu consigo entender
Eu pensava que isso fosse
Coisa de criança 
E que desapareceria
Quando eu crescesse 
Mas estava errada e parece
Que vem se tornando pior
Assustando a mim e àqueles
Ao meu redor

Quando continuam me questionando
Por quê
apenas respondo
Que é um trauma de infância e eles
Balançam a cabeça para cima e para baixo
Fingindo compreender. 

-Milena Farias

Instagram: aquiloqueeununcafalei

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