-Kath...
Desculpa. –Journey finalmente se pronunciou.
Eu mal
conseguia acreditar que ele me chamou de Kath! Que ele me pediu desculpas! Meu
sorriso se abriu automaticamente e eu tentei não escancará-lo demais. Fiquei
encarando Journey, esperando que continuasse.
-Não,
Kath, não está. Agi igual uma criança por algo que aconteceu há tanto tempo, isso
não está certo. Eu pensei bastante sobre as coisas que me disse essa manhã, e
tem algo que preciso admitir. Por mais que estivesse muito magoado com sua
partida na época, não era só isso que estava me frustrando. Dias antes de você
ir embora, recebi uma proposta para jogar na categoria de base de um time de
hóquei em Toronto, e eu a recusei. Você agarrou seu sonho e partiu em busca
dele, e eu fui covarde não seguindo o meu na primeira oportunidade. Isso se somou
com o fato de que eu tinha te perdido, e me feriu de forma mais intensa do que
deveria.
“Quando
te vi ontem depois de tanto tempo, minha primeira reação foi direcionar toda a frustração
do passado em você. Mas não havia motivo algum para isso já que, afinal, é
passado. Então eu preciso te pedir desculpas por ter sido tão imaturo e
grosseiro.”
-Não sabe
como é bom ouvir isso, Journey, essa situação toda estava sendo muito difícil
de aturar. É claro que te desculpo. Me colocando em seu lugar, imagino que
agiria da mesma forma.
Journey
sorriu com a resposta.
Levantei
da mesa e fui até a parede de fotografias antigas, parando em frente de onde
estava a nossa. Passei os dedos sobre sua superfície, e notei que, como eu
estava esperando que fizesse, ele me seguiu, se posicionando atrás de mim.
-Eu
lembro do dia em que tiramos essa.
-Depois
que fingimos ser o casal mais fofo do mundo enquanto posávamos para a foto,
você me empurrou e saiu correndo. –Enquanto Journey falava, a lembrança o fez
sorrir.
-E aí
você saiu correndo atrás de mim e me derrubou no chão.
-Então começou
a chover, e a gente... –Ele parou de falar e passou a me encarar de uma forma
tão intensa que me deixou desconcertada.
Journey
chegava cada vez mais perto, tão perto que já conseguia sentir seu calor irradiando
em minha direção. Tão perto que sentia sua respiração.
Me
pegando completamente de surpresa, ele começou a acariciar meu rosto
vagarosamente, e posicionou a mão que estava livre sob minha cintura, puxando-a
para si. Journey não desviava o olhar da minha boca, e mordeu seu lábio
inferior. Seu rosto foi se aproximando até nossos narizes se encostarem, e
ficamos alguns segundos apenas apreciando aquele instante.
Até que,
finalmente, seus lábios roçaram nos meus, e Journey se entregou em um beijo.
Estávamos
nos beijando sem pressa alguma, apenas querendo aproveitar cada segundo desse
momento que demorou oito anos para se repetir.
Repentinamente
ele afastou seu rosto e, desnorteada, o acompanhei com o meu.
-Kath,
desculpe-me... Não consegui me segurar. Preciso admitir que isso é um pouco
difícil para mim, é uma situação com a qual preciso aprender a lidar. Ainda tenho
que me acostumar com a ideia de que você está de volta e tão... Perto.
-Não
precisa se desculpar, Journey, isso tudo é novo para mim também.
-Não
quero criar expectativas ou me afobar em recuperar todo o tempo perdido e
acabar estragando tudo. Entende que precisamos ir com calma?
-Claro
que entendo. Se for para fazer valer à pena, posso aguardar pelo tempo que
precisar.
Ao ouvir
minha resposta, um sorriso se formou novamente em sua boca, e eu simplesmente não
consigo resistir a ele. Então, ignorando tudo que ele havia dito, contrariando
a mim mesma e mal conseguindo raciocinar por estar tão perto dele novamente
depois de tanto tempo, não me controlei e o puxei pela gola da camiseta para
mais um beijo.
Depois de
deixá-lo durar bem mais do que o anterior, Journey começou a se afastar
novamente.
-Kath,
acho melhor você ir, caso contrário vou mandar para o espaço todo o controle
que demonstrei até agora.
Sorri ao
ouvir aquela frase. Só o fato de ele voltar a me chamar de "Kath" já
era simplesmente incrível. Pousei meus lábios nos seus para um último beijo,
ainda sem conseguir acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, e então ele
me acompanhou até a porta.
Enquanto
caminhava em direção ao portão, olhei para trás no mínimo umas quatro vezes, e
em todas elas o flagrei me acompanhando com o olhar, sorrindo feito um bobo, assim
como eu também estava.