ela tem alguns problemas consigo mesma
nunca está satisfeita, sempre há algo para melhorar
como se a perfeição pudesse ser alcançada
ele está sempre ao seu lado tentando convencê-la
do contrário, mas ela costumava pertencer a outro alguém
ela não consegue entender o que o prende por perto
ele não consegue se cansar dela, não se importa com
a distância, a anula, não se importa
em esperar o quanto for necessário

sempre procura pela garota com o sorriso partido
a oferece abraço, abrigo, porque sabe do que ela precisa
ela continua sem compreender, mas aceita sem hesitar
ele pula a janela se a porta estiver trancada apenas
para admirá-la um pouco mais, porque nunca é o suficiente
ele pede se pode ficar, e ela permite, porque sabe que será amada
mas não sabe se conseguirá retribuir
ele conhece seus esconderijos, sabe que dirige
quando está chateada para algum lugar em que
possa admirar a vista do horizonte

ele sempre sabe onde encontrá-la, e ela faz de
propósito porque quer ser encontrada
não por qualquer um, mas por ele
ele sabe que ela vai voltar toda vez que diz adeus
sabe que as palavras que ela cospe com voz
áspera são a raiva falando, e aprendeu a achar
graça ao vê-la brava
ela não tem medo de cair, porque sabe que ele estará
lá para ajudá-la a se levantar
ele só espera que ela pare de se esforçar tanto
para dizer adeus
ela sabe que, no fundo, prefere ficar

-uma homenagem à She Will Be Loved – Maroon Five















uma semana depois
outra festa
ela criou expectativas mesmo
sem conseguir admitir isso sequer
para si mesma
estava curiosa e ansiosa
com as possibilidades de tudo
que poderia acontecer
ela nunca havia beijado
um garoto mais de uma vez
era sempre
olá, um beijo e adeus

ele também estava lá
como ela sabia que estaria
um cumprimento de longe
a amiga conversando com ele
e ela perdida na imaginação de que
dessa vez, quem sabe
pudesse haver um olá e mais um beijo
depois do adeus da semana passada
mas ainda era tímida demais para
fazer acontecer
queria que ele adivinhasse
o que ela estava esperando
sem sequer dar pistas
sem sequer chegar perto

uma ida ao banheiro e
na volta
para ele houve sim mais um beijo
não nela, mas em outra garota

a amiga pensou que ela não viu
e sugeriu que fossem lá pra fora
ela apenas conseguiu concordar

as duas caminhavam pela calçada
“eu vi, e sei que você também viu”
“pensei que você não tinha visto, por isso quis te tirar de lá”
“não fica mal por causa disso”
“não se preocupa”
respondeu sem saber se queria convencer a amiga
ou a si mesma que estava realmente tudo bem
tentando ignorar as batidas aceleradas
que pareciam querer fazer o coração pular
pra fora do peito

ele não devia nada a ela
não tinham nenhum tipo de comprometimento
a culpa era dela e das suas expectativas
que surgem por conta própria sem se
preocuparem com o estrago que podem causar

ela só conseguia pensar que foi
apenas mais um que não iria à diante
mais um igual a todos os outros
que não significaram nada
já estava acostumada

só o que queria era algo além
de “olá, um beijo e adeus”
queria que alguém quisesse ficar
por mais tempo
ou ao menos por mais uma noite

passou mais uma semana
chegou o dia de outra festa
na qual ela sabia que ele estaria
disse a si mesma
que não esperaria nada
não dessa vez

ele estava lá com a mesma garota que
beijou na festa passada
para quem foi além de
olá, um beijo e adeus

ela se perguntou o que tinha de errado
para não ser aquela com quem ele
escolheu ficar de novo
mas não conseguiria chegar a uma
resposta sem se auto sabotar
e sabia que isso não era
justo consigo mesma
encontrou o bar
recorreu às bebidas

quando o efeito do álcool se fez presente
a amiga saiu caminhando pela festa e
ao retornar trazia ele pela mão
entregando-o como uma encomenda
bem na sua frente
empurrou-os para que chegassem
mais perto um do outro
e desapareceu novamente
no meio das pessoas

um cumprimento
uma mentira
“não tinha te visto antes”
uma risada forçada como resposta
a busca pela dignidade que o
álcool fez sumir
ele chegando mais perto
a mão na sua cintura
puxando-a para si

um beijo que ela deixou acontecer
um beijo que ela retribuiu deixando de lado
o fato de que existia a outra garota
deixando de lado o fato de que
ela não era a primeira opção
que estava sendo nada mais do que
“a outra”

o beijo enfim termina
“vou no banheiro e já volto”
mais uma mentira
eles nunca voltam
ele não foi diferente

no fim da noite
com a dignidade recuperada e
embaraçada
ela o assistiu ir embora
de mãos dadas com aquela
que ele tinha escolhido para ficar de novo
com aquela que tinha sido a primeira opção





















te vi uma única vez entre esses dois janeiros
e foi o suficiente para você passar a habitar
minha mente mais uma vez, mas não como antes
como se não bastasse, ainda trouxe de volta aquela
necessidade estúpida de querer chamar tua atenção
de querer te lembrar que eu estou aqui, quando
na verdade, você sabe bem disso

você sabe onde me encontrar, sabe onde vou estar
se quisesse vir, viria
se quisesse chamar, chamaria
se quisesse ligar, ligaria
mas, por outro lado
eu também sei onde te encontrar, mas não me
dou ao trabalho de te procurar
não dou o primeiro passo
não tomo iniciativa alguma

coloco toda a culpa em ti como se
não tivesse sido eu que te afastei
como se não fosse você quem chegou primeiro
como se não fosse você aquele de nós dois que tentou
aquele de nós dois que insistiu
que esperou, paciente, e nada em troca recebeu


























Procurar um rosto no meio da multidão e achar que todos os outros de olhos e cabelos castanhos são parecidos demais com ele. Desistir de procurar por medo de encontrar o sorriso daquele rosto resplandecendo em outra direção. Imaginar a sensação de mais um abraço. Imaginar poder ficar observando cada detalhe sem medo de ser descoberta. Imaginar-se sendo parte do presente, não do passado. Imaginar -e torcer por- um reencontro a cargo do acaso.












































ela o viu na chegada ao aeroporto 
descendo do ônibus 
de moletom bordô
com cara de sono
olhos puxadinhos parecidos com os dela
que ficavam ainda menores quando ele sorria
ela capturou a imagem daquele sorriso
desde a primeira vez que o viu e
guardou bem na memória 
-continua bem guardado até hoje 

ela perdeu as contas de quantas vezes
caminhou dos bancos até a tenda de revista 
na sala de embarque do Salgado Filho
ele estava concentrado demais na
conversa com os amigos para
reparar nela
a essa altura ela já tinha falado dele
para todas as amigas 
o frio na barriga crescia 
a expectativa da viagem aumentava 

ele finalmente a viu quando já estava sentado no avião e ela
adentrou o corredor na conexão 
Guarulhos - Porto Seguro
e ela percebeu que foi notada
-não conteve um sorriso de satisfação 
a partir de então tudo era motivo para
olhar pra trás e se deparar com os
olhos dele já na direção dela 

a troca de olhares continuou durante o desembarque até que cada um seguiu
para o ônibus de seu grupo e ela pensou
que isso era tudo 
que não voltaria a vê-lo 
mas ela sabia que essa viagem teria
algo guardado para ela e 
foi quando chegou no luau, à noite 
que seus olhos o encontraram 
novamente 

ela decidiu que continuaria olhando para ele sem fazer questão de disfarçar pois não fazia de ideia de onde ele era e possivelmente jamais faria
ele sustentou o olhar dela
o tempo inteiro
até que ela o perdeu de vista 
mas ao voltar o olhar para seu lado
o encontrou parado lá 
pertinho dela
tão perto quanto ela gostaria 
tão perto quanto ela queria
como ela achou que jamais aconteceria 

tudo começou com um “oi”
e então ele já estava tentando descobrir de onde ela era através do sotaque 
e ela se divertiu com isso até contar
que já havia o visto no Salgado Filho

ele finalmente pegou na sua mão 
e a guiou para o Deck 
pulou para a areia 
segurou-a para que fizesse o mesmo
e foram caminhando de mãos dadas
em direção ao mar, onde mal 
podiam ser vistos 
jogaram conversa fora
e ele foi chegando mais perto
e mais perto
mais ainda
suas mãos já estavam em sua cintura 
e tudo que ela queria
aconteceu
e tudo que ela fez
foi retribuir 

ela estava beijando o garoto que queria na beira do mar de Porto Seguro com a lua e as ondas e as estrelas 
de testemunhas 
em sua viagem de formatura 
como se esse tipo de coisa acontecesse com uma garota que nem ela
como se sua vida tivesse sido escrita 
por um roteirista de filme de romance adolescente e naquele momento
foi exatamente como ela se sentiu
como a protagonista de um filme que adoraria assistir
mas a diferença era que ela estava sendo a protagonista da sua vida real
aquele momento era real
estava acontecendo
era tudo que ela queria
foi tudo que ela precisava

e ela fez questão de preservar cada minuto para que nada jamais se perdesse na memória 
para que cada lembrança permanecesse o mais viva possível
para fazer daquele
um momento eterno 













-Kath... Desculpa. –Journey finalmente se pronunciou.
Eu mal conseguia acreditar que ele me chamou de Kath! Que ele me pediu desculpas! Meu sorriso se abriu automaticamente e eu tentei não escancará-lo demais. Fiquei encarando Journey, esperando que continuasse.
-Não, Kath, não está. Agi igual uma criança por algo que aconteceu há tanto tempo, isso não está certo. Eu pensei bastante sobre as coisas que me disse essa manhã, e tem algo que preciso admitir. Por mais que estivesse muito magoado com sua partida na época, não era só isso que estava me frustrando. Dias antes de você ir embora, recebi uma proposta para jogar na categoria de base de um time de hóquei em Toronto, e eu a recusei. Você agarrou seu sonho e partiu em busca dele, e eu fui covarde não seguindo o meu na primeira oportunidade. Isso se somou com o fato de que eu tinha te perdido, e me feriu de forma mais intensa do que deveria.
“Quando te vi ontem depois de tanto tempo, minha primeira reação foi direcionar toda a frustração do passado em você. Mas não havia motivo algum para isso já que, afinal, é passado. Então eu preciso te pedir desculpas por ter sido tão imaturo e grosseiro.”
-Não sabe como é bom ouvir isso, Journey, essa situação toda estava sendo muito difícil de aturar. É claro que te desculpo. Me colocando em seu lugar, imagino que agiria da mesma forma.
Journey sorriu com a resposta.
Levantei da mesa e fui até a parede de fotografias antigas, parando em frente de onde estava a nossa. Passei os dedos sobre sua superfície, e notei que, como eu estava esperando que fizesse, ele me seguiu, se posicionando atrás de mim.
-Eu lembro do dia em que tiramos essa.
-Depois que fingimos ser o casal mais fofo do mundo enquanto posávamos para a foto, você me empurrou e saiu correndo. –Enquanto Journey falava, a lembrança o fez sorrir.
-E aí você saiu correndo atrás de mim e me derrubou no chão.
-Então começou a chover, e a gente... –Ele parou de falar e passou a me encarar de uma forma tão intensa que me deixou desconcertada.
Journey chegava cada vez mais perto, tão perto que já conseguia sentir seu calor irradiando em minha direção. Tão perto que sentia sua respiração.
Me pegando completamente de surpresa, ele começou a acariciar meu rosto vagarosamente, e posicionou a mão que estava livre sob minha cintura, puxando-a para si. Journey não desviava o olhar da minha boca, e mordeu seu lábio inferior. Seu rosto foi se aproximando até nossos narizes se encostarem, e ficamos alguns segundos apenas apreciando aquele instante.
Até que, finalmente, seus lábios roçaram nos meus, e Journey se entregou em um beijo.
Estávamos nos beijando sem pressa alguma, apenas querendo aproveitar cada segundo desse momento que demorou oito anos para se repetir.
Repentinamente ele afastou seu rosto e, desnorteada, o acompanhei com o meu.
-Kath, desculpe-me... Não consegui me segurar. Preciso admitir que isso é um pouco difícil para mim, é uma situação com a qual preciso aprender a lidar. Ainda tenho que me acostumar com a ideia de que você está de volta e tão... Perto.
-Não precisa se desculpar, Journey, isso tudo é novo para mim também.
-Não quero criar expectativas ou me afobar em recuperar todo o tempo perdido e acabar estragando tudo. Entende que precisamos ir com calma?
-Claro que entendo. Se for para fazer valer à pena, posso aguardar pelo tempo que precisar.
Ao ouvir minha resposta, um sorriso se formou novamente em sua boca, e eu simplesmente não consigo resistir a ele. Então, ignorando tudo que ele havia dito, contrariando a mim mesma e mal conseguindo raciocinar por estar tão perto dele novamente depois de tanto tempo, não me controlei e o puxei pela gola da camiseta para mais um beijo.
Depois de deixá-lo durar bem mais do que o anterior, Journey começou a se afastar novamente.
-Kath, acho melhor você ir, caso contrário vou mandar para o espaço todo o controle que demonstrei até agora.
Sorri ao ouvir aquela frase. Só o fato de ele voltar a me chamar de "Kath" já era simplesmente incrível. Pousei meus lábios nos seus para um último beijo, ainda sem conseguir acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, e então ele me acompanhou até a porta.
Enquanto caminhava em direção ao portão, olhei para trás no mínimo umas quatro vezes, e em todas elas o flagrei me acompanhando com o olhar, sorrindo feito um bobo, assim como eu também estava.



“...novas mensagens começaram a chegar.

Desconhecido: "Eu ainda lembro que você é louca por chocolate e sei que cancelaria todos os seus compromissos se fosse convidada para sair para comer pizza." 

Desconhecido: "Ainda lembro do quanto você odeia surpresas, e isso ainda me deixa com vontade de fazê-las, pois as minhas nunca te decepcionaram. Ao menos não até esse momento." 

Desconhecido: "Imagino o quanto deve estar me odiando agora. Eu também te odiei por muito tempo, mas, ao escolher o ódio dentre tantos outros sentimentos, fiz tudo errado. O arrependimento está tomando conta de mim." 

Desconhecido: "Não importa o quanto você relute, o quanto tente me afastar. Eu vou dar um jeito e vou me esforçar para consertar tudo. Por você. Por nós. Porque isso vale a pena. Porque isso é tudo que mais quero. Porque, sem isso, tudo o que conquistei não tem significado." 

Desconhecido: "Será que poderia, por favor, abrir a porta?" 






























-Durante esse ano tentei ser a melhor versão possível de mim mesmo para não te decepcionar, e é o que pretendo continuar fazendo. Eu sei o quanto você sempre gostou de ler e assistir romances, e agora eu quero te fazer viver um na vida real."














































-Então lá vai: quem é você, Anelim Saint?
Essa me pegou de surpresa. Fiquei encarando-o para ver se a pergunta foi séria mesmo, e, sim, ele estava esperando por uma resposta.
-Me dê um motivo para responder essa pergunta a alguém que eu conheço há um dia, Henry.
-Justamente por isso, Anelim Saint, para que não sejamos mais estranhos. –Respondeu ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. –Afinal, nós agora moramos na mesma rua...
-O que exatamente você quer saber?
-Tudo. Ou melhor, nada em específico. O que você costuma responder quando te perguntam isso?
-Na verdade, não estou habituada a esse tipo de pergunta.
-Sério mesmo? Então devo dizer que é uma honra ser o primeiro a te fazer esse questionamento. Vem cá, você já perguntou isso a si mesma? Tipo, “quem sou eu”? –Ele fez uma voz fina no final, como se estivesse me imitando, e tive que me segurar para não rir.
-Me pergunto todos os dias. Aliás, vim para a Califórnia por acreditar que aqui vai ser mais fácil de encontrar a resposta.
-Lamento informar, mas eu, que cresci aqui, ainda não encontrei essa resposta também... Ainda assim, o que já sabe dizer sobre si mesma?
Fiquei um bom tempo pensando no que poderia responder, já que eu definitivamente não tinha uma resposta formulada e fui pega totalmente de surpresa. Decidi falar sobre um conceito que eu sempre tive e que, toda vez que falado em voz alta, provocava olhares tortos em minha direção. 
-O que sei sobre mim, até agora, é que não concordo com a forma com que a maioria das pessoas enxerga a vida. Acho que tudo não se resume apenas a estudar, ir para a faculdade, trabalhar, casar, ter filhos, se aposentar e morrer. Eu acredito que a vida é muito mais que isso, que é muito mais importante ser alguém que será lembrado pelas aventuras que viveu e pelas coisas inspiradoras que fez, do que pelas coisas que construiu e adquiriu. Admiro muito mais as pessoas que viajam o mundo e que se entregam as coisas que amam fazer do que aquelas que acordam todos os dias sabendo como seu dia vai terminar. Eu odeio manter a mesma rotina por muito tempo e preciso de mudanças, de novidades. E espero que eu não me descubra completamente errada.
-E eu espero que você não encontre outra resposta, porque essa foi a melhor que eu já ouvi.
“Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu” pensou Aza Holmes, personagem criada pelo John Green em Tartarugas Até Lá Embaixo, e eu me peguei torcendo para que tivesse esbarrado com uma dessas raridades.









































Eu estava caminhando com passos apressados, escutando música no fone de ouvido em um volume elevado. Não o percebi se aproximar, até que ele me cutucou com o cotovelo.

-Ei, posso escutar música junto contigo?

-Mas acho que você não vai gostar das minhas músicas...

-Provavelmente não. Mas vou gostar de compartilhar o fone de ouvido com você. 

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